Vinho da Madeira: Um tesouro enológico do Arquipélago

Um Vinho Histórico

 

Se há vinho que acompanhou alguns dos eventos mais icónicos da História foi o da Madeira. Faz parte de imensas mesas portuguesas, sem muitas vezes se tenha noção do seu valor cultural que carrega. Podemos desde já revelar que foi o vinho escolhido para o brinde da celebração da Declaração da Independência dos Estados Unidos, a 4 de julho de 1776. Era ainda a bebida predileta de Thomas Jefferson e muito apreciada por outros nomes como George Washington, Alexander Hamilton e Benjamin Franklin. Neste grupo também se inclui Winston Churchill, que numa das suas visitas à ilha afirmou: ‘’beber vinho da Madeira é beber História líquida.’’

 

A doçura envelhecida do Vinho da Madeira, uma jóia líquida de Portugal

Os primórdios da produção vinícola remontam aos tempos de colonização do arquipélago, por volta de 1425. Estima-se que apenas 25 anos depois, a exportação de vinho já era uma realidade económica. Com isto, a Madeira tornou-se um ponto de paragem obrigatório para os navios comerciais dirigidos ao Novo Mundo e/ou às Índias Orientais. Já naqueles tempos, os produtores de vinho eram dotados de uma sensibilidade e astúcia inigualável.  Notou-se que, com as grandes e agrestes travessias marítimas, o vinho perdia algumas das suas propriedades caraterísticas, o que não era desejável. Para que a bebida chegasse ao destino nas excelentes condições com que havia saído, um novo elemento foi adicionado à receita original. Adotando o exemplo do Vinho do Porto, uma pequena quantidade de álcool destilado produzido a partir de cana de açúcar, com 95% de volume, foi adicionado à receita, estabilizando assim o teor de álcool e aprimorando as suas caraterísticas aquando das travessias no mar. 

 

Uma jornada sensorial através dos séculos

Um Vinho Envelhecido

O calor intenso que se fazia sentir nos porões dos navios teve um efeito transformador na qualidade e sabor do vinho, primeiramente não desejado. Contudo, após uma remessa ter sido devolvida à ilha, houve quem afirmasse que preferia este novo sabor. Este vinho da Madeira, agora conhecido como ‘’vinho da roda’’ por ter feito uma viagem de ida e volta, tornou-se muito popular e o predileto de muita gente. Então, os produtores madeirenses começaram a desenvolver métodos que produzissem o mesmo efeito, originando um vinho envelhecido. Os barris de vinho começaram a ser colocados ao sol numa tentativa de recriar o calor a que eram sujeitos nos porões das embarcações. Hoje em dia, a técnica alterou-se: os barris são armazenados em salas especiais, conhecidas como estufas, onde o vinho é sujeito a um método de aquecimento via serpentina durante um período de 3 meses. Após o término desta técnica de envelhecimento por  ‘’estufagem’’ terminar, o vinho precisa de descansar para apurar o seu sabor durante outros 90 dias. 

 

As diferentes castas 

Principais Castas 

As quatro principais castas de Vinho da Madeira foram batizadas com o nome do tipo de uva que lhes deu origem.

 

Sercial

Os vinhos desta casta caraterizam-se por serem ligeiramente encorpados, secos e de elevada acidez. Após o período de envelhecimento, tornam-se num dos vinhos da Madeira mais finos, delicados e requintados - ideal para aperitivos.

 

Verdelho

Comparativamente com a casta Sercial, os Verdelhos são mais encorpados e menos ácidos. Apresentam aromas de frutos secos e com a idade adquirem notas fumadas - indicado para acompanhar refeições. 

 

Bual

Um vinho dourado escuro, muito rico, meio adocicado, medianamente encorpado e frutado. Pode ser consumido num estado mais jovem do que os anteriores, mas recomenda-se envelhecido - perfeito para acompanhar assados e sobremesas. 

 

Malvasia

Os vinhos desta casta são os mais escuros de todos, bastante encorpados e frutados. É macio e apresenta notas de uvas-passas, mas a sua acidez caraterística impede que se torne enjoativo ou demasiado doce - ideal para entre refeições ou para a sobremesa. 

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